Apoio a Trump e à Ucrânia divide candidatos republicanos no 1.º debate

Os oito candidatos que participaram no primeiro debate presidencial para as primárias republicanas dos Estados Unidos mostraram divisões em questões fraturantes como o apoio à Ucrânia e a Donald Trump, mas manifestaram consenso na oposição ao aborto.

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© Al Drago/Bloomberg via Getty Images

Lusa
24/08/2023 06:49 ‧ 24/08/2023 por Lusa

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EUA

Num debate marcado pela ausência do ex-Presidente Donald Trump, primeiro classificado nas sondagens para representar os republicanos nas presidenciais de 2024, foram vários os temas abordados pelos moderadores da emissora Fox News, como a economia, alterações climáticas, aumento do crime ou a China.

Mas nenhum tópico faz exaltar tantos os ânimos como o contínuo apoio dos Estados Unidos à Ucrânia e o apoio a Donald Trump caso seja condenado em alguma das quatros acusações criminais que enfrenta, evidenciando as divisões profundas que afetam o Partido Republicano.

Das vozes que mais entraram em discordância foram a da ex-embaixadora norte-americana na ONU Nikki Haley - a única mulher na disputa - e a do empresário de biotecnologia indiano-norte-americano Vivek Ramaswamy.

Ramaswamy defendeu que, se eleito, não enviaria mais apoio à Ucrânia, afirmando que os interesses norte-americanos deveriam ter prioridade.

"Acho desastroso que estejamos a proteger-nos contra uma invasão através da fronteira de outra pessoa, quando deveríamos usar esses mesmos recursos militares para evitar a invasão da nossa própria fronteira sul, aqui nos Estados Unidos", disse Ramaswamy, arrancando aplausos da multidão.

Por sua vez, Haley afirmou que apenas uma quantia relativamente pequena do orçamento militar dos Estados Unidos é direcionada para a Ucrânia e que deixar a Rússia vencer a guerra seria uma vitória para a China, que "devorará Taiwan".

Haley argumentou que defender a Ucrânia é um esforço para evitar uma guerra mundial, classificando o Presidente russo, Vladimir Putin, de "assassino" e responsabilizando-o pela morte de Yevgeny Prigozhin, líder do grupo mercenário russo Wagner.

Erguendo a voz, a candidata declarou que Ramaswamy tornaria a América menos segura caso fosse eleito e ressaltou que o empresário "não tem experiência em política externa e isso está evidente".

Também o ex-governador de Nova Jérsia Chris Christie e o ex-vice-Presidente Mike Pence, os únicos dois candidatos a visitar a Ucrânia, defenderam a continuidade do suporte a Kiev.

E foi preciso uma hora de debate para que as questões jurídicas de Donald Trump fossem levadas a discussão, com os moderadores a questionarem se os oito participantes ainda apoiariam o magnata como candidato presidencial republicano, caso este fosse condenado.

Mais uma vez, os aspirantes a residentes da Casa Branca divergiram nas opiniões, mas Chris Christie - o candidato mais crítico de Trump - e o ex-governador do Arkansas, Asa Hutchinson, foram os únicos que recusaram apoiar o magnata em caso de condenação.

Naquele que foi um dos momentos mais tensos do debate, Christie foi fortemente vaiado por dizer que Trump violou a Constituição norte-americana.

"A sua conduta está abaixo do cargo do Presidente dos Estados Unidos", disse.

Christie defendeu ainda Mike Pence por se ter recusado a ceder às pressões de Trump para reverter a sua derrota eleitoral em 2020, posição igualmente defendida Haley e pelo senador da Carolina do Sul Tim Scott.

Já o governador da Florida, Ron DeSantis, há muito apontado como o principal rival de Trump dentro do partido, recusou-se a responder a perguntas sobre o ataque ao Capitólio e não se quis posicionar claramente do lado de Pence.

Em contraposição, Vivek Ramaswamy, que durante todo o debate se vangloriou de ser o único "apolítico" da lista de candidatos, reforçou a sua posição de feroz defensor de Trump, a quem classificou como "o melhor Presidente" do país.

Por sua vez, Hutchinson alertou que o Partido Republicano enfrenta um "sério problema" em relação às ações de Trump e sugeriu que o magnata poderia ser desqualificado de concorrer às presidenciais de 2024.

Face à divisão causada por temas como a Ucrânia e Donald Trump, a polémica questão do aborto acabou por reunir o consenso de todos os oito candidatos, que se posicionaram firmemente como "pró-vida". Contudo, divergiram sobre proibir o aborto a nível federal.

Haley disse ser "assumidamente" contra o aborto, mas não considerou realista a sua proibição federal e apelou a que a questão não seja "demonizada" e que sejam encontradas áreas de consenso.

Doug Burgum, um rico ex-empresário do ramo de 'software', agora no seu segundo mandato como governador de Dakota do Norte, opôs-se à proibição federal do aborto e argumentou que esse deveria ser uma decisão de cada estado.

"O que vai funcionar em Nova Iorque nunca vai funcionar na Dakota do Norte", disse Burgum, que assinou uma proibição após as seis semanas de gravidez no seu estado.

Hutchinson ponderou ao dizer que é aceitável que o aborto seja legislado a nível nacional, e Scott declarou "imoral" e "antiético" que estados como a Califórnia e o Illinois permitam abortos tardios, acrescentando que um Presidente precisa de "lutar pela vida".

Trump, que boicotou o debate por considerar não fazer sentido sujeitar-se aos ataques dos adversários quando lidera as sondagens do partido, aparecia à mesma hora numa entrevista pré-gravada com Tucker Carlson, conhecido apresentador de extrema-direita que foi despedido pela Fox News em abril.

Face à ausência de Trump em palco, esperava-se que DeSantis ganhasse destaque, ao mesmo tempo que se tornaria alvo de ataques dos adversários, mas isso acabou por não acontecer, com o governador a ficar em segundo plano na maioria das questões.

Por outro lado, Vivek Ramaswamy, de 38 anos, conseguiu ficar no centro do debate em vários momentos, recebendo fortes aplausos da plateia e farpas dos concorrentes sobre temas que vão desde política externa a mudanças climáticas.

Leia Também: Trump critica acusações criminais e não descarta guerra civil nos EUA

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