"Foi-nos feito um apelo, a nível do Estado, para que o Fundo Aga Khan para o Desenvolvimento Económico pudesse replicar a experiência que temos neste setor no Quénia, em Moçambique (...) Este é um projeto de investimento a longo prazo", explicou Rui Carimo, adjunto do representante diplomático da Rede Aga Khan, em entrevista à Lusa.
São 15 anos desde o arranque das operações da MozTex, uma fábrica reconstruída sob as ruínas da antiga TEXLOM, que era a maior empresa da indústria têxtil em Moçambique e uma das referências na área na África austral, localizada na Matola, nos arredores da capital moçambicana.
Dedicada à produção de tecidos para o mercado interno e para o ex-bloco socialista da Europa do Leste, com o qual Moçambique mantinha relações estreitas desde a luta de libertação, a TEXLOM colapsou e, por quase 10 anos, as infraestruturas degradaram-se.
"O primeiro investimento que teve que ser feito [para criação da MozTex] foi ao nível da reabilitação das infraestruturas. Nos primeiros 12 anos, a fábrica deu-nos resultados negativos", declarou Rui Carimo.
No total, a Rede Aga Khan investiu mais de seis milhões de dólares (5,4 milhões de euros) para remontar a fábrica, mas o principal desafio esteve sempre ligado à mão de obra, que tinha de ser formada.
"Tivemos de formar as pessoas e isso deu seus frutos. Podemos hoje ver aqui uma massa laboral de 1.300 funcionários, todos capacitados pela empresa", sublinhou Rui Carimo.
Entre as 1.300 pessoas formadas neste projeto está Carla António, que entrou para empresa como uma simples funcionária mas agora é líder da equipa.
"Eu fui formada em 2009 pela Moztex e fui formada para formar outras pessoas (...) Não é fácil formar outras pessoas porque aqui em Moçambique não temos essa mercado. As pessoas entram aqui sem saber sequer meter uma linha na agulha", observou à Lusa Carla António.
Como Carla António, há centenas de mulheres, que são a maioria entre os funcionários da empresa, formadas depois de admitidas, algumas das quais agora com projetos pessoais para aumentar os seus rendimentos fora da fábrica.
"Quando eu entrei não sabia nada, mas a empresa deu-me a oportunidade de aprender. Hoje até tenho a minha própria máquina em casa e faço alguns trabalhos. Não fui à escola, mas aprendi aqui um ofício", conta à Lusa Celeste Alexandre, outra funcionária da MozTex.
Hoje, já com presença no mercado internacional, a MozTex produz anualmente 5,8 milhões de peças de roupas, exportadas sobretudo para a África do Sul.
"A nossa produção tem vindo a ser, de ano para ano, alavancada. De 2022 para 2023, por exemplo, produzimos, em acréscimo, mais 1,5 milhões de peças, totalizando as 5,8 milhões de peças, todas exportadas para a África do Sul", concluiu o adjunto do representante diplomático da Rede Aga Khan.
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