Numa reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) para abordar a situação no Líbano, o vice-embaixador norte-americano, Robert Wood, afirmou que, "embora Israel tenha o direito de proteger os seus cidadãos" do movimento xiita Hezbollah, "o país precisa de minimizar os danos aos civis, principalmente nas áreas densamente povoadas de Beirute".
"Estamos profundamente preocupados com os relatos de centenas de civis libaneses mortos nos últimos dias, incluindo crianças, profissionais de saúde e um cidadão americano. Reiteramos o nosso apelo a todas as partes para que protejam os civis e a infraestrutura civil e cumpram suas obrigações sob o direito internacional", afirmou.
Os ataques israelitas no centro de Beirute que, segundo fonte securitária libanesa, visavam também um dirigente do Hezbollah, mataram esta noite 22 pessoas e fez 117 feridos, segundo contabilizou o Ministério da Saúde do Líbano.
O exército israelita não divulgou qualquer ordem de evacuação prévia para estas zonas antes do ataque.
Além disso, pelo menos dois 'capacetes azuis' ficaram feridos num ataque israelita contra uma torre de vigia na sede da missão da ONU no sul do Líbano (Unifil), num dos pelo menos três ataques atribuídos a Israel contra tropas das Nações Unidas nas últimas 24 horas.
A esse respeito, o diplomata dos EUA - o maior aliado internacional de Israel - admitiu igualmente estar "profundamente preocupado" com os ferimentos sofridos pelos soldados da paz da ONU e exortou "todas as partes, incluindo Israel", a que respeitem a segurança do pessoal e das instalações da Unifil.
Robert Wood apelou ainda a que as partes em conflito entrem em contacto com as autoridades da ONU para garantir que a Unifil "possa operar livremente e de acordo com o seu mandato".
Na mesma reunião, momentos antes do embaixador norte-americano tomar a palavra, o chefe do Departamento de Operações de Paz da ONU, Jean Pierre Lacroix, lembrou ao Governo de Israel a sua obrigação de respeitar o estatuto da Unifil e de garantir a sua segurança.
"Protestamos fortemente contra esses acontecimentos junto das autoridades israelitas", assegurou Lacroix, acrescentando que todos os incidentes armados "demonstram pouca consideração pela proteção dos edifícios ou do pessoal da ONU ao abrigo do direito internacional".
Sobre as consequências desta guerra não declarada no Líbano, a subsecretária para assuntos políticos da ONU, Rosemary DiCarlo, destacou que neste momento um quarto do território libanês foi colocado sob ordens de evacuação e que isso afetou mais de uma centena de localidades, "com o exército israelita a dar às vezes às pessoas apenas duas horas para saírem de casa, frequentemente a meio da noite".
Estas ordens resultaram na evacuação de 600.000 pessoas - 250.000 delas numa única semana - enquanto os ataques de Israel já deixaram 2.000 mortos, a maioria civis e muitos deles crianças, segundo o Ministério da Saúde libanês,
Um dos diplomatas que mais indignação demonstrou na reunião de hoje foi o embaixador da Argélia, Amar Bendjama, que cobrou ao Conselho de Segurança a imposição de sanções a Israel.
"Há algumas horas, um ataque israelita atingiu um prédio residencial em Beirute, matando um adolescente inocente e ferindo dezenas de pessoas. Quando é que este Conselho vai assumir a responsabilidade de manter a paz e segurança internacionais? Quando é que este Conselho vai impor sanções às autoridades israelitas pelas atrocidades e violações que estão a cometer?", questionou Bendjama.
As tensões entre Israel e o Hezbollah eclodiram há um ano, quando o grupo islamita libanês começou a lançar mísseis contra o norte do território israelita em sinal de apoio à causa palestiniana.
O Exército israelita intensificou a sua ofensiva contra o Hezbollah em meados de setembro, com bombardeamentos no sul do Líbano e na capital, Beirute, nos quais foi morta grande parte da liderança da milícia xiita, incluindo o seu líder, Hasan Nasrallah .
Há pouco mais de uma semana, Israel iniciou também uma incursão terrestre no sul do Líbano.
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