Pelo menos 782 mortos e mais de 1.100 feridos num cerco a El Fasher

Pelo menos 782 civis sudaneses morreram e mais de 1.143 ficaram feridos num cerco do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido em El Fasher, a capital do estado do Darfur do Norte, relatou hoje a ONU.

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© Dan Kitwood/Getty Images

Lusa
20/12/2024 15:53 ‧ há 4 horas por Lusa

Mundo

Sudão

"O cerco contínuo [iniciado há cerca de sete meses] a El Fasher e os combates sem tréguas estão a devastar vidas todos os dias em grande escala", afirmou o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, citado em comunicado.

 

Milhares de civis estão cercados, sem garantias de saída segura da cidade e correndo o risco de serem mortos ou feridos por ataques indiscriminados de todas as partes envolvidas no conflito, lamentou o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) com base nos dados de um relatório hoje divulgado.

"Esta situação alarmante não pode continuar. As Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) têm de pôr fim a este cerco horrível. E apelo a todas as partes em conflito para que ponham termo aos ataques contra civis e objetos civis. Apelo a que cumpram as suas obrigações e compromissos ao abrigo do direito internacional", reiterou Türk.

Há sete meses, desde o início do cerco, que El Fasher foi transformada num campo de batalha entre as RSF e as Forças Armadas Sudanesas (SAF), apoiadas pelas suas Forças Conjuntas aliadas - compostas pelo Movimento de Libertação do Sudão/Minni Minawi, o Movimento Justiça e Igualdade/Jibril Ibrahim, e outros grupos armados mais pequenos.

O relatório conclui que as partes utilizaram armas explosivas em zonas povoadas de uma forma que suscita sérias preocupações quanto ao respeito pelo princípio da precaução e à proibição de ataques indiscriminados, segundo o ACNUDH.

A investigação, baseada em entrevistas realizadas em outubro e novembro com 52 pessoas que conseguiram fugir de El Fasher, e corroborada por várias fontes independentes, indica que tem havido bombardeamentos regulares e intensos por parte das RSF em áreas residenciais densamente povoadas, ataques aéreos recorrentes por parte das SAF, e bombardeamentos de artilharia tanto por parte das SAF como das suas Forças Conjuntas aliadas, afirmou.

O Hospital Maternidade Al-Saudi, atualmente o único hospital público em El Fasher capaz de fornecer operações cirúrgicas e serviços de saúde sexual e reprodutiva, foi bombardeado repetidamente pelas RSF, diz o relatório.

As RSF são também acusadas de atacarem repetidamente campos de deslocados, como o de Zamzam (a 15 quilómetros de El Fasher).

"Qualquer ataque em grande escala ao campo de Zamzam e à cidade de El Fasher catapultará o sofrimento dos civis para níveis catastróficos, aprofundando a já terrível situação humanitária, incluindo as condições de fome", afirmou Türk.

O responsável da ONU para os direitos humanos apelou também a todas as partes em conflito para que adotem esforços de mediação de boa fé, com vista à cessação imediata das hostilidades, e que a comunidade internacional ajude a um caminho de paz.

Hoje a ONU anunciou que três funcionários do Programa Alimentar Mundial (PAM) foram mortos na quinta-feira num ataque aéreo.

"O PAM está indignado com a morte de três dos seus funcionários num bombardeamento aéreo no Sudão, na quinta-feira, 19 de dezembro", escreveu hoje a agência num comunicado.

Desde 15 de abril de 2023, o Sudão é assolado por um conflito entre o exército, liderado por Abdel Fattah al-Burhane, e o seu antigo adjunto Mohamed Hamdan Daglo, chefe das RSF.

Os combates já causaram dezenas de milhares de mortos e mais de 11 milhões de deslocados. Cerca de 26 milhões de pessoas enfrentam já uma grave insegurança alimentar, segundo a ONU.

Leia Também: Pelo menos 80.000 civis procuraram asilo no Sudão do Sul em três semanas

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