"Sempre houve um consenso claro entre todos os democratas nos nossos parlamentos: não fazemos causa comum com a extrema-direita", disse no parlamento o chefe de governo social-democrata (SPD) à oposição conservadora, que lidera as sondagens para as eleições legislativas antecipadas de 23 de fevereiro.
Candidato a um segundo mandato -- mas em terceiro lugar nas intenções de voto -, Olaf Scholz acusou o líder da União Democrata-Cristã (CDU), Friedrich Merz, favorito a chanceler, de ter "posto fim" a este "consenso fundamental" da República alemã, criado em 1949, e de estar a jogar póquer com o futuro do país e da Europa.
O Bundestag (parlamento) debate hoje propostas da CDU que defendem um endurecimento das regras de migração do país, que poderão ser apoiadas pela extrema-direita (Alternativa para a Alemanha, AfD, em segundo lugar nas sondagens).
Os dois textos apresentados pelos conservadores incluem planos para bloquear na fronteira qualquer pessoa sem documentos legais de entrada, incluindo os requerentes de asilo.
A CDU, coligada com a sua congénere União Social-Cristã (CSU), da Baviera, admite fazer passar estes textos com o apoio do partido de extrema-direita.
"O direito de asilo é parte integrante do nosso sistema jurídico e dos nossos valores e não o devemos pôr em causa", protestou Olaf Scholz, durante uma declaração do governo na câmara baixa do parlamento.
Por outro lado, o chanceler advertiu que fechar de facto as fronteiras aos refugiados viola o direito europeu e colocaria a Alemanha no mesmo nível da Hungria do primeiro-ministro populista e ultranacionalista Viktor Orbán.
"O maior país da União Europeia [UE] violaria abertamente o direito comunitário de uma forma que só Viktor Orbán se atreveu a fazer até agora na Hungria, com uma mensagem fatal para outros Estados", comentou.
Scholz qualificou de "populistas" as propostas de Merz, cujo partido vai submeter hoje a votação dois projetos de resolução não vinculativos e um projeto de lei na sexta-feira.
O líder do Governo alemão sublinhou que, se forem aplicadas, estas medidas serão rapidamente bloqueadas pelos tribunais alemães e também não serão aprovadas pela justiça europeia.
"A erosão do Estado de Direito destrói a confiança e a estabilidade", defendeu Scholz, que advertiu o seu rival: "Há limites que não podem ser ultrapassados como estadista".
O chanceler, que governa em minoria com os Verdes desde novembro do ano passado, defendeu a aplicação do Pacto Europeu sobre Migração e Asilo e a aprovação das leis necessárias para o transpor para a legislação nacional nas escassas quatro semanas que restam da legislatura antes das eleições.
As medidas que compõem o pacto oferecem, de facto, uma resposta aos problemas relacionados com a migração irregular, insistiu, mas se a Alemanha abandonar os regulamentos europeus, haverá um efeito dominó e o mesmo acontecerá com os outros países.
Merz apresentou estas propostas na semana passada, na sequência de um atentado perpetrado por um cidadão afegão, que estava ilegalmente no país, e que matou uma criança e um homem à facada, numa localidade no sul da Alemanha.
Quer o SPD de Scholz quer o seu parceiro de coligação, os Verdes, criticaram a disponibilidade do líder conservador para receber o apoio da AfD -- que aplaudiu as propostas -, acusando Merz de querer romper o chamado 'cordão sanitário' para isolar a extrema-direita.
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