"Estamos preocupados com a saúde mental das crianças e jovens ucranianos"

A Unicef está preocupada com a saúde mental das crianças e adolescentes na Ucrânia, alertando que o impacto destes três anos de guerra pode ter consequências a longo prazo se não houver uma intervenção já.

Notícia

© Oksana Ivanova/Suspilne Ukraine/JSC "UA:PBC"/Global Images Ukraine via Getty Images

Lusa
21/02/2025 16:09 ‧ ontem por Lusa

Mundo

UNICEF

"Quando as crianças são expostas a um 'stress' extremo, pelas perdas ou por ir para caves todos os dias quando as sirenes de ataque aéreo disparam, enfrentam um risco muito maior de distúrbios psicológicos e de pior saúde física ao longo da vida", afirmou à agência Lusa um porta-voz da Unicef na Ucrânia, Toby Fricker.

 

Por isso, defendeu, "é crucial ter uma intervenção precoce agora, porque as consequências de estar exposto a isso nestas idades podem ser intergeracionais e manifestar-se ao longo dos anos".

Toby Fricker, que falou com a Lusa a partir de uma escola subterrânea, criada pelas autoridades ucranianas segundo um projeto da Unicef, na cidade de Zaporijia, lembrou que há algumas crianças que nem sequer têm memória de viver sem guerra.

"Depois de três anos de guerra em grande escala, mas também de 11 anos de guerra para as crianças do leste da Ucrânia, vemos à nossa volta crianças que cresceram apenas no meio da guerra e isso tem um impacto enorme na sua saúde mental", disse Toby Fricker, lembrando que os primeiros três anos de vida de uma criança são aqueles em que o cérebro se desenvolve mais rapidamente.

Por outro lado, os mais crescidos, os adolescentes da Ucrânia, "viveram vidas muito isoladas nos últimos três anos", o que, para mais, se seguiu aos confinamentos da pandemia da covid-19.

"Com tantas escolas fechadas, há uma falta de interação com outras crianças, além do medo diário dos ataques aéreos, de nunca se saber o vai acontecer a seguir", explicou o representante da agência da ONU para a defesa e promoção dos direitos das crianças.

Escusando-se a comentar o eventual impacto das negociações políticas em curso sobre a Ucrânia na população mais nova, Toby Fricker sublinhou que "o que as crianças precisam é de uma paz real e duradoura, isso é absolutamente crítico".

No entanto, e enquanto a guerra continua, "continuaremos a trabalhar com o Governo e com parceiros locais que são absolutamente essenciais porque este investimento nas crianças e nos jovens hoje não é realmente negociável", defendeu o porta-voz da organização, sublinhando que "não só é a coisa certa a fazer para a proteção e bem-estar [das crianças], mas pelo futuro da Ucrânia".

Um dos exemplos do que a Unicef e parceiros fazem para ultrapassar as dificuldades dos mais jovens é aquilo que Toby Fricker chamou de centro de formação para assistentes sociais, mas que também inclui professores.

"Estão a desenvolver competências não só para lidar melhor consigo próprios, mas também para oferecer apoio às crianças através de espaços comunitários", explicou, adiantando que "quando regressarem às escolas, seja 'online' ou pessoalmente, poderão oferecer um melhor apoio às crianças que vivem esta crise há tanto tempo".

Ali "desenvolve-se as capacidades agora para que, em primeiro lugar, seja possível encorajar as pessoas a regressar, mas também para fornecer o apoio de que as crianças necessitam hoje e, ajudá-las no futuro", acrescentou.

Orgulhoso da escola subterrânea onde se encontrava, o representante da Unicef considerou que "mostra o empenho das autoridades locais em realmente manter as crianças a aprender, porque são o futuro", apostando também numa "aprendizagem holística, como as competências sociais que se aprendem indo à escola".

Admitindo que a aprendizagem das crianças no país está atrasada - perdeu-se um a dois anos devido ao fecho das escolas e às dificuldades em ter aulas -- a Unicef está a tentar ultrapassar essa perda "o mais rapidamente possível".

Isso "é feito de diferentes formas", adiantou.

Por um lado, há que dar competências de comunicação, através, por exemplo, do envolvimento com outros jovens, com professores, através da resolução de conflitos dentro das escolas, mas também dando formação de professores para que, por exemplo, identifiquem as crianças que estão com dificuldades, a quem se pode dar apoio personalizado tanto quanto possível.

Por outro lado, frisou Toby Fricker, há que desenvolver a capacidade do sistema, dando aulas de recuperação tanto em escolas informais como em ambientes comunitários não formais.

"É preciso dar competências práticas, competências vocacionais, dar aos adolescentes e jovens competências para que se desenvolvam e depois passem para a vida profissional", afirmou, realçando, porém, que também é essencial "o aspeto da coesão social de crianças e jovens deslocados" ou seja, reuni-los em "centros juvenis, onde as crianças e os jovens se podem voltar a envolver, podem falar sobre problemas, podem discutir saúde mental ou outros assuntos".

Para este especialista, as escolas são muito importantes porque "proporcionam uma espécie de normalidade e de esperança", mas o maior desejo de crianças e jovens "é, obviamente, estar em casa ou o mais perto possível".

Por isso, "estamos a pedir às partes que priorizem o rastreio" das crianças que, e alguns casos, foram levadas para território russo ou ocupado, "e a reunificação e regresso das famílias", concluiu.

Na próxima segunda-feira, a Ucrânia assinala o terceiro aniversário do início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022, que desencadeou uma guerra com um balanço de perdas humanas e materiais ainda por fazer.

Leia Também: Uma em cada 5 crianças ucranianas perdeu família ou amigos na guerra

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas