A multidão alinhou-se de ambos os lados da estrada, desde a cidade de Rishon LeZion, de onde partiu o cortejo, até ao cemitério de Tsoher, onde foram sepultados a mãe, Shiri Bibas, e as crianças, Ariel e Kfir, numa cerimónia transmitida pela televisão.
Uma multidão concentrou-se também na Praça dos Reféns, em Telavive, acompanhando as imagens transmitidas pelos canais de televisão locais e agitando bandeiras israelitas.
Os presentes expressaram o seu apoio a Yarden Bibas, o pai das crianças falecidas, que também foi sequestrado, mas foi libertado com vida no início de fevereiro, no âmbito de uma troca entre o Hamas e Israel, ao abrigo do cessar-fogo em vigor na Faixa de Gaza.
Yarden, marido de Shiri, explicou que os três foram sepultados na mesma urna para que "permaneçam sempre juntos" e lamentou não ter conseguido "protegê-los".
"Ajudem-me a não cair na escuridão", disse, num discurso em que elogiou a mulher e os filhos, que tinham 10 meses e 4 anos quando foram sequestrados.
"Amo-te e amar-te-ei sempre. Eras tudo para mim. Eras a melhor mãe e a melhor mulher que eu poderia ter tido. Eras a minha melhor amiga. Quem me ajudará agora a tomar decisões?", lamentou Yarden durante a cerimónia fúnebre, na qual se referiu à sua mulher como "o meu amor".
"Penso em tudo o que passámos juntos e há recordações muito bonitas. Lembro-me dos nascimentos de Ariel e Kfir. Lembro-me dos dias em que nos sentávamos a tomar um café, só tu e eu, e conversávamos durante horas. Sinto falta desses pequenos momentos", disse Yarden Bibas, citado pelo diário The Times of Israel.
Yarden Bibas’s full eulogy:
— Aviva Klompas (@AvivaKlompas) February 26, 2025
"Mi Amor"
I remember the first time I said "mi amor" to you. It was at the very beginning of our relationship. You told me to only call you that if I was certain I loved you, not to say it carelessly. I didn't say it then because I didn't want you to… pic.twitter.com/SD6RvT8gKr
Antes, o Presidente israelita, Isaac Herzog, homenageou Shiri Bibas e os filhos, numa mensagem publicada nas redes sociais antes de os três serem sepultados.
"Todo o país está de luto. Os nossos corações estão destroçados e acompanhamos-vos no vosso eterno descanso", afirmou.
"Não era isto que tínhamos sonhado recuperar (...) Este é um pranto que será ouvido de um extremo ao outro do mundo e que despertará algo no coração das pessoas em todo o lado. Juntem-se a nós no nosso pranto; o pranto de uma nação inteira e de um povo destroçado", afirmou.
Today, an entire country, and an entire people, are in the grips of grief and mourning, pain and tears. At an hour when two little lambs – golden babes – are finally coming back to their mother, back to us, back home. And we – all of us – an entire nation with a broken heart,… pic.twitter.com/A1sUxYGhre
— יצחק הרצוג Isaac Herzog (@Isaac_Herzog) February 26, 2025
O caso da família Bibas causou polémica em Israel, depois de as autoridades israelitas terem acusado o Hamas de violar o acordo de cessar-fogo ao entregarem, a 20 de fevereiro, o corpo de uma pessoa cujos restos mortais não correspondiam inteiramente aos de Shiri Bibas, embora o movimento palestiniano tenha logo afirmado que esses restos mortais estavam "misturados" com os de outras vítimas de um bombardeamento israelita da Faixa de Gaza.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, não tardou a descrever o incidente como uma "violação cruel e atroz do acordo de cessar-fogo" alcançado entre as partes e em vigor desde 19 de janeiro.
No dia seguinte, as forças israelitas comunicaram uma nova entrega de restos mortais que coincidiam com os da refém em questão, facto que foi confirmado a 22 de fevereiro pelo Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos, que comunicou a identificação destes restos mortais como sendo os de Shiri e sublinhou que deveriam ter sido entregues antes.
O Hamas reiterou que tanto Shiri como as duas crianças morreram em novembro de 2023, em consequência de um bombardeamento israelita "ordenado pelo próprio Netanyahu", a quem acusa de ser o principal responsável pelas suas mortes.
Em resposta a tais acusações, o Exército israelita sublinhou que foram, na verdade, os "terroristas" do Hamas que mataram as crianças "com as suas próprias mãos".
A entrega dos corpos também não foi isenta de polémica: o Governo israelita classificou como "repugnante e horrendo" o "espetáculo monstruoso" proporcionado pelo Hamas com a cerimónia organizada para a entrega dos cadáveres de quatro reféns mortos na Faixa de Gaza, incluindo os três da família Bibas.
A cerimónia foi igualmente criticada pelas Nações Unidas e pela Comissão Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que manifestaram a sua "preocupação e insatisfação" com o 'modus operandi' do movimento armado palestiniano.
Por esta razão, apelaram para que estas entregas fossem efetuadas de forma "privada e digna", advertindo para possíveis violações do Direito Internacional.
Leia Também: Família Bibas responsabiliza Israel pelas mortes: "Podiam ter-vos salvo"