Questionário a universidades portuguesas? "Vontade de mostrar autoridade"

Pedro Duarte considerou que Portugal poderá encarar esta situação "como uma oportunidade" para "tentar compensar aquilo de que tão errado se está a fazer no mercado norte-americano", em termos científicos e académicos.

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Notícias ao Minuto com Lusa
14/04/2025 09:12 ‧ ontem por Notícias ao Minuto com Lusa

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Pedro Duarte

O ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, distanciou-se, no domingo, da decisão da administração do presidente norte-americano, Donald Trump, de colocar termo aos contratos com universidades portuguesas, na sequência de um questionário “inconcebível”. Saudou, contudo, as instituições portuguesas, que protagonizaram “um momento de reforço de autonomia”.

 

“Há uma vontade de mostrar uma certa autoridade perante o mundo. […] Rejeito, critico, afasto-me liminarmente desse tipo de atitude, mas temos de reconhecer que, democraticamente, é legítima para quem está no poder. Há uma legitimidade formal de quem está no poder nos Estados Unidos de querer que os financiamentos externos possam ter determinado tipo de concessão definida por quem tem essa autoridade naquele país”, disse Pedro Duarte, em declarações à CNN Portugal.

O governante apontou que o questionário representou uma “atitude da administração norte americana de reação àquilo que, na ótica dos próprios, será uma cultura 'woke' que estaria demasiado impregnada na filosofia global, que os próprios Estados Unidos da administração anterior estariam a tentar cativar em termos globais”.

“Do que conheço, foi unânime a reação das universidades portuguesas a ignorar ou não respondendo mesmo àquilo que é um questionário inconcebível. […] Acho que foi um momento de reforço de autonomia das nossas instituições e de defesa daquilo que são os valores que acho que acreditamos que devem ser os valores que devem nortear as nossas instituições científicas e académicas”, complementou.

O responsável considerou ainda que Portugal poderá encarar esta situação “como uma oportunidade” para “tentar compensar aquilo de que tão errado se está a fazer no mercado norte-americano”, em termos científicos e académicos.

“Independentemente de ficarem sem um determinado financiamento, diria que é da vida. Há valores que estão muito acima dessas componentes materiais”, disse.

Recorde-se que o governo dos Estados Unidos cancelou ao Instituto Superior Técnico (IST) um programa que permitia ter nas suas instalações um espaço de divulgação da cultura americana, tendo a instituição portuguesa sido questionada sobre ligações a organizações terroristas.

O presidente do IST, Rogério Colaço, disse à Lusa que recebeu em 5 de março a comunicação do cancelamento, com "efeito imediato", do programa 'American Corner' e, no mesmo dia, um inquérito com "questões bastante desadequadas" sobre se o IST colaborava ou não, ou era citado ou não em acusações ou investigações envolvendo associações terroristas, cartéis, tráfico de pessoas e droga, organizações ou grupos que promovem a imigração em massa.

No IST, o 'American Corner' funcionava há mais de dez anos e, de acordo com Rogério Colaço, promovia palestras, encontros e atividades de "divulgação e de cariz científico". O financiamento anual rondava os 20 mil euros.

O diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), Hermenegildo Fernandes, disse à Lusa que recebeu o mesmo questionário, que o deixou estupefacto pela "dimensão do descaramento" das perguntas, nomeadamente sobre "agendas climáticas", se a instituição tinha "contactos com partidos comunistas e socialistas" ou "relações com as Nações Unidas, República Popular da China, Irão e Rússia" e o "que fazia para preservar as mulheres das ideologias de género".

A faculdade optou igualmente por não responder ao questionário, notando que "a sua dependência é com as políticas científicas de Portugal e da União Europeia", adiantou o diretor da FLUL, sem clarificar se o programa 'American Corner' foi cancelado ou não à faculdade, que tem um "espaço americano" a partilhar instalações próximas com o Instituto Confúcio, entidade oficial da China que promove a cultura e a língua do país.

Contactada a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, a direção da instituição indicou à Lusa, sem mais detalhes, que o 'American Corner' é "um projeto anual que terminará em setembro".

"Estamos a avaliar a hipótese de nos candidatarmos à continuação do projeto ou não", acrescentou a faculdade numa breve declaração.

O reitor da Universidade de Aveiro e presidente do Conselho de Reitores lamentou os termos da comunicação feita pela Embaixada dos Estados Unidos, condicionando a continuidade de financiamento à resposta a perguntas "intoleráveis".

Segundo Paulo Jorge Ferreira, as universidades portuguesas que até agora têm beneficiado de financiamento dos EUA, através do programa American Corner, receberam sexta-feira, dia 7 uma inesperada comunicação da Embaixada norte-americana, com a rescisão unilateral das subvenções em vigor, caso não fosse preenchido um formulário com perguntas tidas como "inadequadas".

Do mesmo figuravam perguntas como "se não trabalham com entidades associadas a partidos comunistas, socialistas, ou totalitários", ou ainda se receberam financiamento da República Popular da China, incluindo os institutos Confúcio, da Rússia, Cuba, ou Irão.

"O conselho de reitores discutiu o assunto e as perguntas, pela sua natureza, configuram uma intromissão intolerável na autonomia das instituições e na sua liberdade de investigação e da ação académica", disse à Lusa.

De acordo com o portal da Embaixada dos Estados Unidos em Portugal, os "espaços americanos" totalizam mais de 600 em mais de 140 países e estão localizados, designadamente, em universidades, centros comerciais, bibliotecas e instalações de embaixadas.

Leia Também: Das questões aos cortes. O que se passa entre EUA e as faculdades lusas?

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