No debate parlamentar marcado pelo PS sobre novas ligações ferroviárias, em que os socialistas recomendam ao Governo que arranque com o concurso da Linha de Alta-Velocidade Porto-Lisboa até final de janeiro para não perder fundos europeus, a maioria das críticas da oposição centrou-se no tempo que consideram ter sido perdido pelo atual e anteriores executivos.
"Não tem sido por falta de apoio parlamentar que esta e outras iniciativas não têm avançado, sempre prometidas em vésperas de eleições e sempre adiadas", criticou o deputado do PCP Bruno Dias.
Ainda assim, os comunistas defendem uma maior transparência neste projeto de alta velocidade e a necessidade de abandonar o modelo das Parcerias Público Privadas (PPP), dizendo ser necessário "aprender com as más experiências destas opções".
Pelo BE, a deputada Isabel Pires defendeu que o investimento na ferrovia deve ser uma prioridade do país, mas considerou que "durante décadas a opção foi em sentido contrário".
Os bloquistas defendem, numa recomendação ao Governo, que o projeto do TGV seja "pensado em estreita articulação com as autarquias e movimentos de cidadãos" e que se reduza o valor do passe ferroviário nacional para 40 euros.
A porta-voz e deputada única do PAN, Inês Sousa Real, lamentou que Portugal seja o terceiro país europeu que "mais ferrovia perdeu nas últimas décadas", mas considerou que o investimento no TGV não pode "ficar sequestrado por um acordo PS/PSD".
"Propomos ao Governo que assegure junto das instituições europeias o alargamento do prazo da candidatura para que seja possível na próxima legislatura uma maioria parlamentar avançar com a linha de alta velocidade", defendeu.
Já o deputado único do Livre, Rui Tavares, lamentou que os partidos à direita não tenham apresentado qualquer iniciativa legislativa neste debate "como se nada tivessem a acrescentar sobre o tema" e desafiou o PS a aprovar a sua recomendação que pede o retomar dos comboios noturnos entre Portugal e Espanha.
Pela Il, o líder Rui Rocha repetiu em plenário o apoio inequívoco à linha de alta velocidade que tinha transmitido aos jornalistas, minutos antes, nos passos perdidos da Assembleia da República.
"Numa futura solução governativa, a IL será a locomotiva do desenvolvimento ferroviário em Portugal e da alta velocidade", prometeu.
O Chega, através do deputado Bruno Nunes, não explicitou a posição do partido quando ao concurso da alta velocidade.
Já com o novo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, no plenário, o PSD aproveitou para atacar a sua fama de fazedor, com o deputado António Topa Gomes a questionar quais foram os seus feitos na ferrovia enquanto ministro das Infraestruturas, em particular no distrito de Aveiro, por onde ambos foram eleitos deputados.
O deputado social-democrata recordou que António Costa é primeiro-ministro desde 2015 e o PS quer agora fazer crer que "bastam 30 dias de irresponsabilidade do PSD para tudo falhar" no lançamento do concurso da alta velocidade Porto-Lisboa.
"A resposta do presidente do PSD é cristalina: se for para evitar perder fundos, o país ganha em não atrasar o concurso", disse, reiterando a posição hoje anunciada pelos sociais-democratas de votar a favor da resolução do PS.
Pela bancada socialista, o deputado Carlos Pereira acusou o PSD de, quando foi Governo, ter "desmantelado a ferrovia" e sublinhou que o PS quer avançar com "o máximo consenso" para obras desta dimensão, ao contrário do que acusou os sociais-democratas de terem feito quando privatizaram a TAP em 2015 "à 25.ª hora".
Na réplica, o PSD devolveu a acusação de encerramento "de mais de 800 km de linha férrea" ao Governo do PS liderado por José Sócrates.
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