Responsabilizar Pedro Nuno? "É um bluff de casino, não é bom para o país"

Ana Gomes criticou ainda as declarações do ministro Miguel Pinto Luz e afirmou que o Governo "já não está a governar".

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Notícias ao Minuto
10/03/2025 09:05 ‧ há 3 horas por Notícias ao Minuto

Política

Crise política

A ex-eurodeputada Ana Gomes afirmou que ir a eleições "não é desejável", mas que é "inevitável", tendo em conta que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, "quer ir para eleições" ao apresentar uma moção de confiança. 

 

No seu habitual espaço de comentário na SIC Notícias, Ana Gomes realçou ainda que Luís Montenegro estava "mais do que ciente" que o Partido Socialista (PS) não votaria a favor de uma moção de confiança.

"Depois de tudo o que se passou e as razões pela qual é apresentada [a moção de confiança], é porque o primeiro-ministro se quer furtar a prestar esclarecimentos. Não ter respondido às perguntas dos jornalistas, dos partidos políticos, inclusivamente, que lhe têm sido dirigidas pela Assembleia da República, por escrito, e não quer confrontar-se com uma comissão parlamentar de inquérito, onde teria de prestar esses esclarecimentos", apontou.

Ana Gomes salientou que o primeiro-ministro está "enredado em suspeitas graves, de estar a receber dinheiro de várias empresas, incluindo uma empresa de casinos que é altamente preocupante". 

Questionada sobre se o argumento de Luís Montenegro de nunca ter sido avençado a convencia, a socialista admitiu que não, dizendo que só se soube da relação do primeiro-ministro com os Casinos Solverde porque foi "confrontado". 

"Na declaração de interesses que apresentou na Entidade de Transparência, [Luís Montenegro] não esclarece. Refere e a empresa familiar, mas não esclarece como devia quem é que são os clientes. Ate hoje não o disse. Só disse um, a Cofina e a própria Solverde ele foi confrontado com a informação no Parlamento, aliás por Pedro Nuno Santos", apontou. 

Ana Gomes recordou que, na altura, o primeiro-ministro disse que "toda a gente" sabia que Luís Montenegro e o dono dos Casinos eram amigos "desde sempre". No entanto, afirmou que, "hoje", sabem-se "coisas que não se sabiam", dando como exemplo os "negócios do casino" e questionando porque é que "o traçado do TGV pode ser alterado para servir os interesses da família Violas, família que detém os Casinos Solverde".

"Sabemos também, por exemplo, que empresas do universo da Solverde [...] receberam fundos PRR, no ano passado", notou, acrescentando que muito do que se tem sabido é "graças ao trabalho dos jornalistas" e que a própria Solverde "confirmou que pagava uma avença à empresa do primeiro-ministro". 

A antiga eurodeputada referiu também o "caso da gasolineira" que veio à tona esta semana, que "é do pai do pai do candidato do PSD à Câmara de Braga e é também o sogro da jurista que trabalha para a empresa do primeiro-ministro que é, aparentemente, a pessoa que ficou a dar serviços de proteção de dados".

"Para a gasolineira, o trabalho parece que foi criar um plano de gestão de combustíveis e a empresa, que é muito estranho, pagou 194 mil euros à empresa do primeiro-ministro, em 2022. Ao mesmo tempo que só teve 31 mil euros de lucros e pagou 194 mil à empresa de Montenegro? [...] A própria empresa de Braga vem dizer que graças ao primeiro-ministro conseguiu obter contratos de milhões que entraram. Era bom sabermos que contratos são esses porque, aparentemente, o primeiro-ministro não percebe só de proteção de dados, também percebe de gestão de combustíveis". 

Ana Gomes comparou o caso de Luís Montenegro, com o caso de José Sócrates. 

"Nós somos de um país em que temos um primeiro-ministro, que depois de ser primeiro-ministro descobrimos que ele evocava a fortuna da mãe, escondia-se atrás da fortuna da mãe e, hoje, está a ser julgado porque, afinal, recebia de várias empresas, incluindo do BES. Neste caso, não é a mãe, são os filhos que podem ser o esquema de biombo porque há pagamentos aqui", afirmou.

Já sobre o posicionamento da Procuradoria Geral da República (PGR) neste caso, Ana Gomes afirmou estar "inquieta", uma vez que "noutros casos revelou ser muito lesta por muito menos" e que "até agora parece estar a dormir". 

"Soubemos que estava a analisar uma denúncia anónima, mas aqui estamos a falar de notícias sucessivas escarrapachadas nos jornais com muitos detalhes que não foram dados pelo primeiro-ministro, foram omitidos por ele, ainda há dados que são omitidos pelo primeiro-ministro. Há três empresas que já sabemos que são do universo da Spinumviva [...] até a própria Cofina que, até hoje, não explicou que tipo de serviços é que prestaram, que tipo de remuneração é que obtiveram, se ainda continuam a ter uma ligação e a pagar à empresa, quem é que efetivamente prestou o serviço. Tudo isso é muito importante saber porque se não a suspeita adensa-se", frisou.

Questionada se a PGR poderá estar a optar por ser mais recatada, Ana Gomes volta a referir estar "atarantada com a ausência da ação, sobretudo quando está em causa um primeiro-ministro que recebe de casinos". 

"Há aqui um perigo tremendo. Ainda por cima, quando os controlos são muito frouxos no nosso país [...] não podemos fazer escrutínio quando não sabemos quais são as empresas, não podemos ver se há, ou não,  conflito de interesses quando não sabemos quais são as empresas e, portanto, adensa-se a nebulosidade e a suspeita", sublinhou. 

Ana Gomes destacou ainda que "foi o primeiro-ministro" que criou "esta crise política", "ao não fornecer informações, desde logo para a declaração de interesses e depois ao não esclarecê-las".

A socialista salientou ainda que "espera que a PGR não esteja à espera que haja uma investigação da Procuradoria Europeia, sobretudo quando há fundos europeus envolvidos". 

Relativamente à comissão parlamentar de inquérito apresentada pelo PS, Ana Gomes referiu que o partido "fez o que devia fazer", notando que o primeiro-ministro preferiu avançar com uma moção de confiança, ao invés de "enfrentar" um CPI, "sabendo que "pode precipitar a queda do governo e ir para eleições".

A antiga eurodeputada falou ainda das declarações dos "vários ministros" que se "dividem".

"Uns, núcleo duro com Montenegro, a dizer que moção de confiança é inevitável", disse, acrescentando que há outros a propor que o PS "desista" da comissão de inquérito e que se "abstenha" na moção de confiança e, "portanto, ficava tudo com antes".

"Não é possível, não fica nada tudo como antes. Foi o primeiro ministro que o disse, estamos num lamaçal. Está ele e foi ele que pôs o país num lamaçal", afirmou Ana Gomes. 

A socialista referiu também que o PS "não tem medo de ir a eleições".

"Que hipocrisia é esta de pedir a Pedro Nuno Santos que sempre disse que votaria contra uma moção de confiança [...] disse que não tinha confiança no primeiro-ministro, fazia tábua rasa e fingia que não era nada? Isso é um bluff de casino ou é um negócio de tapetes do centrão e, portanto, não é bom para o país", notou. 

Ana Gomes criticou ainda as declarações do ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, dizendo que achou "patético", uma vez que o Governo "já não está a governar". 

Leia Também: PS reúne Comissão Política Nacional na segunda-feira (véspera da moção)

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