As previsões para as contas públicas dos dois maiores partidos têm estado no centro do debate nesta 'corrida' para as eleições de 18 de maio, após o PS ter surpreendido ao prever um défice orçamental em 2026.
As medidas com maior impacto orçamental são fiscais, com a AD a focar-se em reduzir IRS e IRC e o PS a propor IVA zero permanente num cabaz alimentar.
Os socialistas inscrevem no programa eleitoral um excedente de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, que se transforma num défice de 0,4% em 2026, um saldo nulo em 2027 e 2028 - que seria positivo se fosse excluído o impacto do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) - e um excedente de 0,1% em 2029.
É um cenário mais pessimista do que a AD, que no programa apresentado esta sexta-feira, prevê um excedente de 0,3% do PIB este ano, tal como já tinha sido projetado pelo Governo no Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), e de 0,1% em 2026.
Já para 2027, a coligação que junta o PSD e o CDS antevê um excedente de 0,3% do PIB, de 0,2% em 2028 e de 0,3% em 2029.
PS alinhado com instituições financeiras, mais ambicioso na redução da dívida
Mas não é apenas o PS que admite a possibilidade de um saldo orçamental negativo, sendo que, nas previsões mais recentes, já duas instituições antecipam também um regresso aos défices orçamentais.
O Banco de Portugal, no Boletim Económico de dezembro, apontava para um défice de 0,1% em 2025, de 1% em 2026 e de 0,9% em 2027.
No documento, a instituição liderada por Mário Centeno explicava estes números "pelos efeitos das medidas permanentes já adotadas, que impactam tanto a despesa pública como a receita fiscal, pelos empréstimos do PRR previstos para 2026 e, a partir de 2027, pelo aumento de despesa nacional necessária para assegurar a continuidade dos projetos financiados pelo PRR".
Já o Conselho das Finanças Públicas (CFP) projetou, no relatório divulgado esta semana, um saldo nulo este ano, um défice de 1% em 2026 e de 0,6% nos anos seguintes até 2029.
A justificação da entidade para este cenário também se centra nos empréstimos PRR, bem como políticas como valorizações salariais para grupos profissionais da Função Pública e reduções de impostos.
Mesmo assim, o Governo desvaloriza estas previsões, com o ministro das Finanças a sinalizar esta sexta-feira que "a incerteza sobre a economia gera maior dificuldade, mas com crescimentos na ordem dos 2%, que é também a projeção do CFP e a projeção de todas as entidades que seguem a economia portuguesa", o executivo está confiante de que se vão manter "superávites nos próximos anos".
De facto, a AD é a mais otimista no que diz respeito ao desempenho da economia, esperando um crescimento do PIB de 2,4% este ano, acima dos 2,1% inscritos no OE2025, seguindo-se um crescimento de 2,6% em 2026, 2,9% em 2027, 3,2% em 2028 e 3,2% em 2029.
Por sua vez, o PS estima um crescimento de 2,3% este ano, acima do projetado no OE2025, de 2,1% em 2026, de 1,7% em 2027 e de 2% em 2028 e 2029.
Olhando para as previsões das instituições, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o BdP também apontam para um crescimento de 2,3% este ano, enquanto o CFP estima que será de 2,2% e a OCDE projetava, em dezembro, uma subida de 2% do PIB.
Para 2026, as instituições também acreditam num crescimento em torno ou acima de 2%. No entanto, o cenário internacional poderá afetar o desempenho da atividade económica, com as tensões geopolíticas e a guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos a pesar.
Por outro lado, na trajetória de redução da dívida pública é o PS que é mais ambicioso nos primeiros anos. Os socialistas preveem um rácio de 90,4% do PIB este ano, 86,8% em 2026, 83,5% em 2027, 80% em 2028 e 76,6% em 2029.
Já a AD prevê uma redução do rácio para 91% do PIB em 2025, 87,2% em 2026, 83,4% em 2027, 79,5% em 2028 e 75,1% em 2029.
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