O principal partido da oposição da Geórgia, o Movimento Nacional Unido (MNU), fundado pelo ex-Presidente Mikhail Saakashvili, com 32 de um total de 150 assentos parlamentares, e o partido Lelo, com sete deputados, anunciaram hoje que não irão mais ao parlamento.
"Estamos a iniciar os procedimentos para um boicote parlamentar, quer dizer, só participaremos quando estiverem em causa temas importantes, como alterações à Constituição ou uma moção de censura ao Governo", disse Levan Bezhashvili, deputado do MNU.
Segundo Bezhashvili, "organizar-se-á uma coordenação com o resto da oposição para evitar a usurpação do poder".
O deputado do partido Lelo Badri Khaparidze afirmou que a sua formação política se associará a esta posição do MNU.
"Só criando um Governo de coligação poderemos conduzir tranquilamente o país às eleições locais de 02 de outubro", afirmou.
Uma moção de censura ao Governo pode ser apresentada por pelo menos 50 parlamentares.
O que fez esgotar a paciência destes dois partidos foi a morte, no domingo, do repórter de imagem Alexandr Lashkarava, atacado a 05 de julho por ativistas homofóbicos quando informava sobre a frustrada Marcha do Orgulho, em defesa dos direitos da comunidade LGBTQI+ (lésbicas, 'gays', bissexuais, transgénero, 'queer', intersexuais e outros).
Lashkarava foi encontrado morto este domingo, uma semana depois de ter sido espancado durante a Marcha do Orgulho, em Tbilissi, sofrendo fraturas nos ossos do rosto.
Este repórter de imagem da cadeia de televisão independente Pirveli foi uma das dezenas de jornalistas agredidos por um grupo violento de manifestantes contra a comunidade LGBTQI+ enquanto captava imagens da Marcha do Orgulho na capital georgiana.
A demissão do Governo do primeiro-ministro Irakli Garibashvili é também exigida por vários jornalistas e associações profissionais.
Mais de 10.000 manifestantes concentraram-se no domingo em frente ao parlamento para exigir a sua demissão.
O Governo georgiano prometeu uma investigação objetiva dos incidentes e dos motivos da morte do jornalista.
Será realizada outra ação de protesto hoje em Tbilissi.
O anterior boicote da oposição durou mais de seis meses, após as eleições legislativas do outono de 2020, classificadas como fraudulentas pela oposição.
O boicote foi interrompido após a intervenção pessoal do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
O presidente do partido Sonho Georgiano, Irakli Kobakhidze, disse que "a oposição não ganhará nada" com um novo boicote.
"Se querem isolar-se, façam-no. Os opositores são radicais e agem contra o Estado georgiano", declarou.
Segundo Kobakhidze, "os radicais georgianos são liderados por Saakashvili", ex-presidente da Geórgia (2004-2013), que se instalou em 2019 na Ucrânia e é perseguido pela justiça georgiana.
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