Ucrânia. Igreja Ortodoxa russa disponível para novo encontro com Papa

A igreja ortodoxa russa mostrou-se hoje disponível para um novo encontro entre o patriarca Cirilo, próximo do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o Papa Francisco, apesar das tensões diplomáticas devido à guerra na Ucrânia.

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Lusa
14/09/2022 12:02 ‧ 14/09/2022 por Lusa

Mundo

Ucrânia/Rússia

O soberano pontífice, na nacionalidade argentina, cumpre hoje o segundo dia de uma visita ao Cazaquistão e abriu os trabalhos de uma cimeira inter-religiosa marcada pela ausência de Cirilo, que apoia a ofensiva russa na Ucrânia, ao contrário de Francisco, que condena a "agressão cruel" e "bárbara", apesar de tentar manter o diálogo com Moscovo.

Após o início dos trabalhos, Francisco reuniu-se com Antoine de Volokolamsk, "ministro dos Negócios Estrangeiros" de Cirilo, com o dirigente da igreja ortodoxa russa a considerar que existe "uma possibilidade" de uma reunião entre os dois líderes religiosos, mas "desde que seja bem preparada"

"Temos de ver quando e onde. O mais importante é ter algo no final, uma apelo comum como fizemos em Havana", declarou aos jornalistas Volokolamsk, aludindo ao histórico encontro de 2016, em Cuba, entre Francisco e Cirilo, o primeiro desde o cisma de 1054 entre as igrejas do Oriente e do Ocidente.

O alto dirigente ortodoxo russo, que, como metropolita, serve de intermediário entre o patriarca e os arcebispos, adiantou que o próprio Papa considerou essa reunião "necessária", lamentando, porém, que a Santa Sé tenha "cancelado" uma reunião marcada para junho passado em Jerusalém. 

"Estávamos prontos para esse encontro, mas foi cancelado pela Santa Sé", lamentou Volokolamsk, citando uma entrevista dada pelo Papa em maio ao jornal italiano Corriere della Será, em que Francisco confidenciou ter desistido do encontro. 

"A entrevista foi muito inesperada e é claro que este tipo de expressões não ajuda a unidade dos cristãos, foi uma surpresa. Mas temos que seguir em frente e é importante que dois líderes religiosos continuem esse caminho para fazer tudo o que nós, como cristãos, podemos fazer para ajudar as pessoas", afirmou.

Ao abrir os trabalhos da cimeira inter-religiosa, diante de líderes religiosos de todo o mundo, Francisco alertou contra a "instrumentalização do sagrado".

"Nunca justifiquemos a violência. Não deixemos que o sagrado seja instrumentalizado pelo profano. Que o sagrado não seja acessório do poder e que o poder não seja acessório do sagrado", disse o Papa, aplaudido pela cerca de uma centena de delegações de meia centena de países e de numerosas confissões muçulmanas.

"Libertemo-nos dessas conceções reducionistas e destrutivas que ofendem o nome de Deus pela rigidez, extremismos e fundamentalismos e ainda o profanam com ódio, fanatismo e terrorismo", acrescentou Francisco, sustentando que, numa altura em que o mundo está marcado pela guerra, -- o Papa não faz qualquer referência ao conflito na Ucrânia -- "todas as irmãs e irmãos devem dar as mãos".

Apesar de ausente fisicamente, Cirilo deixou hoje uma mensagem publicada no portal da Igreja Ortodoxa russa e enviada aos participantes da cimeira em Nursultan, em que deixou críticas "à distorção dos factos históricos".

"Testemunhamos a distorção dos factos históricos e a manipulação sem precedentes da consciência coletiva. Hoje, é mais difícil do que nunca para as pessoas navegar no fluxo de informações, resistir a ataques ideológicos e manter uma mente lúcida e a paz espiritual", considerou Cirilo.

A Rússia tem defendido estar a ser alvo das ambições de dominação ocidental e de uma campanha política e mediática anti-russa, particularmente desde a invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro deste ano.

Entre os participantes do congresso religioso trianual em Nursultan estão também o Grande Imã de Al-Azhar, a mais alta instituição do islamismo sunita, com sede no Cairo, e representantes de diferentes religiões, mas também de organizações internacionais.

O papa, de 85 anos, chegou terça-feira ao maior país da Ásia Central para uma visita de três dias, naquela que é a 38.ª viagem ao exterior desde que foi eleito, em 2013.

Leia Também: Papa pede aos líderes religiosos para que nunca justifiquem a violência

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