Nos últimos dias, Merz, candidato a chanceler da União Democrata Cristã (CDU), mostrou-se aberto para reeditar uma coligação da sua CDU com o Partido Social Democrata (SPD, centro-esquerda), do chanceler cessante, Olaf Scholz, apesar das divisões entre os dois partidos sobre a política migratória.
Os Verdes poderiam ser outro apoio para um futuro governo liderado por Merz, mas rejeitam medidas restritivas para a migração como as defendidas pelos democratas-cristãos, e que tiveram recentemente apoio no parlamento do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Merz já estabeleceu como prazo a Páscoa (20 de abril) para ter o seu executivo constituído.
A CDU, que concorre às eleições com a sua congénere bávara CSU, quer evitar coligações de três partidos, como a mal-sucedida "coligação semáforo", que juntou SPD, os liberais do FDP e os Verdes. A quebra desta coligação, no final do ano passado, precipitou eleições antecipadas, que estavam inicialmente marcadas para final de setembro deste ano.
A União Democrata Cristã tem liderado de forma consistente as sondagens, com 30% das intenções de voto, seguida da AfD (cerca de 22%), que candidata uma das suas líderes, Alice Weidel, ao lugar de chanceler. Os partidos tradicionais rejeitam acordos com a extrema-direita, vigorando um "cordão sanitário" que tem impedido este partido de aceder a lugares governativos ou cargos de responsabilidade no parlamento.
Segundo as mais recentes sondagens, o SPD de Scholz surge em terceiro lugar, com cerca de 15%, seguido de muito perto pelos Verdes, cujo candidato é o atual vice-chanceler e ministro das Finanças, Robert Habeck, que alcançam 13%.
O Partido Democrático Liberal (FDP), antigo parceiro da coligação governamental, pode ficar fora do Bundestag (parlamento), rondando os 4% nas sondagens, tal como o recém-criado Bündnis Sahra Wagenknecht (Aliança Sahra Wagenknecht, o nome da líder populista de esquerda). A Esquerda tem 5% das intenções de voto e poderá conseguir ficar no parlamento.
Dependendo dos resultados eleitorais de cada partido a 23 de fevereiro, estas são as opções de Merz, segundo os cenários traçados pelo jornal 'online' Politico:
Se o centro-direita e o centro-esquerda tiverem bons resultados: "Grande Coligação"
A chamada "grande coligação", juntando CDU e SPD, é uma das formações clássicas de executivos na Alemanha.
Desde 1994, o país já teve quatro executivos deste tipo, três dos quais liderados pela antiga chanceler Angela Merkel (CDU), que liderou a Alemanha entre 2005 e 2021.
No entanto, a CDU de Merz tem-se posicionado mais à direita, o que pode dificultar futuros compromissos com o SPD. Recentemente, o candidato conservador apresentou propostas para endurecer as leis da imigração, que tiveram o apoio da AfD, o que motivou duras críticas dos opositores, incluindo Scholz, que acusaram Merz de romper o tradicional "cordão sanitário" em relação à extrema-direita, e também de Merkel.
Por outro lado, espera-se que o SPD se mostre mais flexível quanto às propostas para a migração.
Se os Verdes tiverem um bom resultado -- a "coligação kiwi"
Três dos 16 estados da Alemanha são atualmente governados por uma coligação entre os conservadores e os Verdes - por vezes referida como uma "coligação kiwi" - mas nunca houve uma aliança entre estes partidos a nível nacional.
CDU e Verdes coincidem quanto à política externa e despesas com a Defesa. No entanto, Merz quer endurecer a imigração e promete fechar as fronteiras do país, visão que os Verdes criticam.
Os Verdes podem servir sobretudo de alavanca para os conservadores nas suas negociações com o SPD.
Se os partidos mais pequenos tiverem bons resultados: coligação tripartida
Esta é uma solução rara -- a "coligação-semáforo" de Scholz foi a primeira aliança tripartida em mais de 60 anos -, mas a fragmentação política e o fim do tradicional domínio bipartidário podem forçar tais acordos.
Na verdade, uma coligação a três poderá mesmo ser difícil de evitar se dois dos três partidos mais pequenos atualmente com assento no parlamento - Os Verdes, o FDP e A Esquerda - voltarem a entrar.
Nesse caso, há duas opções: a chamada "coligação alemã" (composta pela CDU/CSU, o SPD e o FDP) ou, menos provável, uma aliança CDU/CSU, SPD e Verdes, chamada "coligação Quénia", porque as cores associadas aos partidos (preto, vermelho, verde) coincidem com as da bandeira daquele país africano.
Um destes cenários seria sempre mais indesejável, uma vez que as diferenças acentuadas poderiam criar instabilidade, a mesma que conduziu à queda do governo anterior.
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