"Estamos a ver neste momento que as indústrias de combustíveis fósseis e a extrema-direita estão a alinhar-se em torno da destruição do ambiente e da destruição das nossas democracias. Por isso, é muito natural, lógico e crucial, diria eu, que o movimento climático se alinhe em torno da proteção da democracia", sustentou a ativista, em declarações à agência Lusa.
Luisa Neubauer tem também estado na organização de muitas das manifestações contra a extrema-direita que se têm multiplicado pelo país, principalmente depois da União Democrata-Cristã (CDU) ter conseguido a aprovação de uma moção não vinculativa graças aos votos do partido Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita).
"Não confio nem um centímetro no senhor [Friedrich] Merz, líder da CDU e candidato a chanceler. Ele traiu o público e a democracia alemã e não podemos ter a certeza de que não voltará a fazê-lo. As suas palavras são vazias", apontou.
A CDU lidera as sondagens com cerca de 30%, seguida da AfD, com 20% dos votos.
"Temos de encarar o facto de que teremos alguém sentado na Chancelaria que, até agora, não demonstrou em nenhum momento estar ciente da ciência básica do clima, o que é um problema. E se essa mesma pessoa também estiver disposta a colaborar com a extrema-direita, vai ser difícil", reconheceu.
"É por isso que nós, enquanto sociedade civil, estamos muito interessados e dispostos a defender os nossos meios de subsistência e a democracia", continuou.
"O futuro da Alemanha não parece muito risonho neste momento, mas também sabemos que a mudança não é linear e que surge, torna-se possível, no momento em que não estamos apenas a olhar para a escuridão, mas também a abrir os olhos para ver a luz", apontou Luisa Neubauer, admitindo algum otimismo.
A ativista alemã tem estado no centro das atenções não só por ser a voz de muitos protestos, mas por aparecer em atos públicos com várias mensagens.
No festival de cinema Berlinale, Neubauer usou um vestido onde se podia ler os primeiros nomes do Presidente norte-americano, do dono da Tesla (e da rede social X) e da líder da AfD, Alice Weidel: "Donald & Elon & Alice & Friedrich?".
Na parte de trás do vestido estava escrita a frase "A democracia morre à luz do dia".
Berlinale © Getty Images
Este protesto mereceu resposta da equipa de Merz através da rede social Instagram com uma camisola e as palavras "Konrad & Ludwig & Helmut & Friedrich!", em referência aos antigos chanceleres da CDU. A mensagem deixava Angela Merkel, também da mesma força política e que foi chanceler da Alemanha de 2005 a 2021, de fora.
No "Prémio Mulher do Ano" da revista "Glamour", Luisa Neubauer usou um fato da marca sustentável berlinense Working Title, por baixo de uma T-shirt branca com as palavras "End Fossil Fuels".
"Estamos a ver que as catástrofes climáticas estão a destruir, a prejudicar e a ameaçar as nossas democracias (...). É aqui que vemos como surgem enormes custos em torno da destruição climática que ninguém pode pagar. São os mais pobres os primeiros a ser atingidos, e são os governos que são forçados a passar de um modo de crise para o seguinte, sem ou com cada vez menos espaço para se alinharem e refletirem", realçou Luisa Neubauer ainda em declarações à Lusa.
A Alemanha realiza no domingo eleições legislativas antecipadas - estavam previstas para 28 de setembro -, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta pelo SPD (social-democrata), pelos liberais do FDP e pelos Verdes.
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