"[Joseph Aoun] convocou o juiz Nawaf Salam para lhe confiar a formação do Governo, sabendo que se encontra atualmente no estrangeiro e que deverá regressar amanhã [terça-feira ao Líbano]", anunciou o diretor-geral da Presidência da República, Antoine Chouqeir, no final das consultas parlamentares.
O general Joseph Aoun foi eleito como novo Presidente do Líbano a 09 de janeiro, pondo fim a um vácuo de poder que durou mais de dois anos, desde o fim do mandato do último chefe de Estado.
Aoun, apoiado pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita, foi eleito na segunda volta, com 99 votos dos 128 deputados. Na primeira ronda, o general conseguiu apenas 71 votos e os restantes foram em branco ou anulados, uma mensagem de força do movimento xiita Hezbollah e aliados.
Nawaf Salam, nascido em Beirute a 15 de dezembro de 1953 [71 anos), é um diplomata, jurista e académico libanês que foi eleito, a 06 de fevereiro de 2024, presidente do TIJ, onde era juiz desde 09 de novembro de 2017.
Salam foi embaixador e representante permanente do Líbano junto das Nações Unidas em Nova Iorque de 2007 a 2017, período durante o qual ocupou os cargos de presidente do Conselho de Segurança e de vice-presidente da Assembleia Geral.
Salam foi o segundo árabe a ser eleito presidente do TIJ e o primeiro juiz libanês no principal órgão jurisdicional da ONU, que tem sede em Haia.
A candidatura de Salam ao cargo de primeiro-ministro foi apoiada sobretudo pelas forças políticas que se opõem ao movimento xiita pró-iraniano Hezbollah, que saiu muito enfraquecido da sua última guerra contra Israel. O magistrado libanês é visto como um intelectual imparcial, fora da classe política tradicional.
Dirigido por um governo interino liderado pelo primeiro-ministro cessante Najib Mikati, que figurava entre os nomes para o cargo, o Líbano estava sem presidente desde outubro de 2022 devido a divergências políticas, apesar de uma grave crise económica e do conflito que opôs o Hezbollah a Israel durante mais de um ano, antes do cessar-fogo do final de novembro.
No âmbito da partilha de poder entre as comunidades religiosas no Líbano, o Presidente da República é um cristão maronita, o primeiro-ministro é um muçulmano sunita e o presidente do Parlamento é um muçulmano xiita.
Segundo a Constituição, o Presidente recebe representantes de todos os grupos parlamentares, bem como eleitos independentes. No final das consultas, designa sempre como primeiro-ministro o candidato que for apoiado pelo maior número de deputados.
Salam foi nomeado primeiro-ministro do Líbano por mais de metade dos deputado: no Parlamento, 78 deputados, de um total de 128, tinham indicado Salam, contra apenas nove votos para Mikati, enquanto 19 deputados, incluindo os do Hezbollah, não apoiaram qualquer candidato.
Enquanto Aoun prometeu uma "nova era" para o Líbano após a sua eleição pelo parlamento, as forças políticas que se opõem ao Hezbollah consideram que Mikati faz parte de um sistema político ultrapassado sob o controlo do Hezbollah.
Após a nomeação de Salam, George Adwan, deputado do bloco das Forças Libanesas, o maior bloco cristão, apelou ao Hezbollah para que "se empenhe no trabalho político", acrescentando que "a era das armas acabou para sempre".
No dia anterior, os representantes anti-Hezbollah tinham feito tentativas de última hora para reunir a oposição e os independentes em torno de Nawaf Salam.
Um terceiro candidato, o deputado anti-Hezbollah Fouad Makhzoumi, um rico homem de negócios com boas relações com os Estados do Golfo e com Washington, retirou a candidatura para se juntar a Salam.
O jornal Al-Akhbar, próximo do Hezbollah, escreveu hoje que a nomeação de Salam seria um "golpe de Estado completo dos Estados Unidos".
O professor universitário Ali Mrad disse à AFP, antes da nomeação, que a escolha de Nawaf Salam significaria um "regresso à lógica da reforma, da soberania e da unidade nacional".
O novo primeiro-ministro terá de enfrentar grandes desafios, incluindo a implementação de reformas económicas para satisfazer os doadores internacionais.
Acima de tudo, terá a difícil tarefa de reconstruir vastas zonas do país após a guerra entre Israel e o Hezbollah e de aplicar o acordo de cessar-fogo de 27 de novembro, que prevê a retirada do Hezbollah da zona fronteiriça com Israel.
[Notícia atualizada às 17h30]
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