No debate que decorre esta manhã no parlamento sobre a proposta do Governo que agrava a moldura penal das agressões a elementos das forças de segurança e outros agentes de serviços públicos, que conta com a presença da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, o tema da operação policial de quinta-feira no Martim Moniz, em Lisboa, foi trazido por partidos como o PS, o Chega, o BE, o PCP ou o CDS-PP.
Do púlpito, a deputada do PS Isabel Moreira defendeu que não se podia começar este debate sem falar desta operação da PSP "com o objetivo de aumentar o sentimento de segurança em locais tidos como de risco", recordando as palavras do primeiro-ministro sobre o tema.
"Todos pudemos ver imagens impensáveis em democracia. Um forte dispositivo policial encostou cidadãos a parede, revistando-os. Isto é inaceitável num regime democrático", criticou.
Perante "a gravidade dos acontecimentos" e "a negação do estado de direito", o PS já deu entrada de um requerimento para ouvir a ministra da Administração Interna e diretor nacional da PSP.
"Para o PS, a segurança é de todos e de todas. Nunca contámos com extrema-direita para nada. Querem segurança de alguns, saúde para alguns, usufruir da liberdade para alguns", condenou, recusando a ideia de haver "cidadãos de primeira e outros de segunda".
Apesar das várias interpelações sobre o assunto, a ministra não abordou o tema da operação policial nem na sua intervenção inicial nem no encerramento do debate.
O líder parlamentar do BE considerou que não foi por coincidência que "no mesmo dia em que PSD aprova medidas do Chega que atacam o acesso de imigrantes ao SNS", se tenha assistido à "perseguição e intimidação a imigrantes no centro de Lisboa", afirmando que "quem mandou encostar dezenas de imigrantes na Rua do BenFormoso está aqui sentado, foi o Governo, que capitulou e se rendeu à agenda da extrema-direita".
O deputado comunista António Filipe considerou que o que se passou no Martim Moniz "foi espetáculo e foi lamentável".
Do lado do Chega, o líder parlamentar, Pedro Pinto, saudou as forças de segurança pela "grande ação no Martim Moniz", considerando que a "PSP atuou de acordo com a lei, cumprindo ordens". Pedro Pinto criticou a "extrema-esquerda" que "não gosta que a polícia cumpra ordens" e questionou a ministra da Administração Interna se "estas operações vão continuar", mas ficou sem resposta.
Também com críticas à esquerda, João Almeida, do CDS-PP, assinalou que esta foi apenas "uma das operações que nos últimos tempos uma das forças de segurança fez", indicando que têm existido mais, e com maiores consequências, entre as quais o desmantelamento de "redes de tráfico de droga e de seres humanos".
BE, o PCP e Livre já tinham anunciado que queriam ouvir a audição da ministra da Administração Interna no parlamento para esclarecer esta operação policial, que o primeiro-ministro disse ter sido "muito importante" para criar "visibilidade e proximidade" no policiamento e para aumentar a sensação de tranquilidade dos cidadãos portugueses".
A operação policial de quinta-feira no Martim Moniz resultou na detenção de duas pessoas e na apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e uma centena de artigos contrafeitos. De acordo com a PSP, uma pessoa foi detida por posse de arma proibida e droga e outra por ser suspeita de pelo menos oito crimes de roubo.
O enorme aparato policial na zona, onde moram e trabalham muitos imigrantes, levou à circulação de imagens nas redes sociais em que se vislumbram, na Rua do Benformoso, dezenas de pessoas encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia, e comentários sobre a necessidade daquele procedimento.
[Notícia atualizada às 12h35]
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