O presidente do Chega quis "sublinhar a demissão do secretário de Estado Hernâni Dias, vários dias após ter sido exigida a sua saída", incluindo por si, e reiterou que "não tinha, evidentemente, nenhumas condições para continuar em funções".
André Ventura falava aos jornalistas no parlamento sobre a demissão do ex-secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, na sequência da notícia divulgada pela RTP na sexta-feira, de que Hernâni Dias criou duas empresas que podem beneficiar com a nova lei dos solos - área que tutela enquanto secretário de Estado.
O líder do Chega referiu o caso do deputado eleito pelo Chega que é suspeito de furtar bagagens no aeroporto, para defender a "diferente atitude" que teve, enquanto presidente do partido, e Luís Montenegro, enquanto primeiro-ministro.
"Num dos casos há uma exigência absoluta de renúncia, no outro dos casos há uma tentativa de olhar para o lado, a ver se os outros factos se sobrepõem, se cobrem ou se escondem a realidade. O primeiro-ministro acabou por ser surpreendido pela própria demissão do secretário de Estado, e não ter sido ele, como deveria ter sido, a tomar a iniciativa", criticou.
André Ventura considerou que, perante a situação em causa, Luís Montenegro "deveria ter tido uma atitude firme", acusando-o de ser "fraco em relação aos seus próprios governantes".
O presidente do Chega considerou também que, apesar da demissão do secretário de Estado, o parlamento deve continuar o escrutínio.
Como o Chega também quer saber "se o primeiro-ministro e os membros do Governo, nomeadamente a secretaria-geral, tinham ou não conhecimento desta incompatibilidade evidente", quer chamar à Assembleia da República este novo órgão do Governo que entrou em funções no início do ano.
"Nós vamos exigir à coordenação do Governo, nomeadamente à nova secretaria-geral, que venha ao parlamento prestar esclarecimentos sobre quem, na altura, antes da nomeação da nova secretaria-geral, fazia a análise dos processos individuais de cada governante", indicou.
O primeiro-ministro comunicou terça-feira que aceitou o pedido de demissão do secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, realçando "o desprendimento subjacente à decisão pessoal" de Hernâni Dias. Esta foi a primeira demissão no XXIV Governo Constitucional PSD/CDS-PP que tomou posse a 02 de abril do ano passado e é liderado por Luís Montenegro.
Hoje, o presidente do Chega voltou a falar no caso de Miguel Arruda, depois de confrontado com as declarações do presidente da Assembleia da República, que confirmou ter sido abordado "de forma informal" pelo vice-presidente da bancada Rui Paulo Sousa sobre as malas no gabinete do agora deputado não inscrito, uma conversa que considerou "absolutamente irrelevante" para a investigação.
André Ventura criticou Aguiar-Branco por "desvalorizar" a situação e defendeu que, "mesmo sabendo que há uma investigação em curso", as autoridades devem ser ajudadas quando existe essa possibilidade.
O líder do Chega insistiu que deu indicação na quinta-feira, "quando foi informado", poucas horas depois de aterrar em Portugal, para que o presidente da Assembleia da República fosse avisado da existência de malas suspeitas no gabinete utilizado pelo deputado açoriano, que foram apreendidas na segunda-feira. Isto aconteceu um dia depois de Miguel Arruda ter sido constituído arguido, e dois após as buscas em sua casa.
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