Segundo uma estimativa do Shelter Cluster, um grupo de organizações humanitárias internacionais e locais coordenado pela ONU e pela sua agência Organização Internacional para as Migrações (OIM), pelo menos 945 mil palestinianos não estão preparados para o inverno e precisam de roupas térmicas, cobertores e lonas para isolar os abrigos da chuva e do frio.
"Pessoas vulneráveis, incluindo pelo menos sete crianças, morreram de hipotermia, e estas mortes trágicas sublinham a necessidade urgente de a população de Gaza receber imediatamente abrigos e outras ajudas", defendeu a diretora-geral da OIM, Amy Pope, num comunicado hoje divulgado.
As chuvas de inverno e as temperaturas atuais, que rondam os -10º Celsius, estão a ter "um impacto devastador" no agravamento da catástrofe humanitária em que já viviam os palestinianos deslocados em Gaza, alertou a OIM, lembrando que muitas destas pessoas vivem em centros de acolhimento ou abrigos improvisados.
Famílias inteiras ficaram "expostas a condições adversas, com dificuldades para reparar as tendas danificadas devido a meses de utilização", descreveu ainda a OIM, acrescentando que "as restrições sistemáticas de acesso" de ajuda humanitária, conforme relatado pelo OCHA (o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários), "prejudicaram gravemente a prestação de ajuda".
De acordo com a mesma fonte, apenas 285 mil pessoas receberam apoio em abrigos desde setembro de 2024.
Sublinhando que tem mais de 1,5 milhões de 'kits' de inverno -- abrigos, tendas, camas -- prontos em armazéns e pontos de entrada, a OIM lamenta as severas restrições de acesso que impedem a organização de os fazer chegar aos necessitados.
"A OIM reitera o seu apelo urgente a um cessar-fogo para permitir a entrega segura e imediata de ajuda vital às pessoas que dela necessitam desesperadamente", afirmou a agência da ONU, pedindo também a todas as partes envolvidas que garantam a proteção de civis, libertem todos os reféns e permitam o acesso humanitário seguro, rápido, desimpedido e sustentado.
"O povo de Gaza merece segurança, abrigo e dignidade", frisou a organização.
A equipa da ONU "está pronta a mobilizar ajuda e apoiar as comunidades deslocadas, mas deve ser concedido acesso humanitário para que tal seja possível", concluiu.
A Faixa de Gaza é cenário de uma guerra desde 07 de outubro de 2023, na sequência de um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano Hamas em Israel que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala em Gaza, que já provocou mais de 45 mil mortos, na maioria civis, milhares de deslocados e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.
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