A jovem israelita, capturada pelo grupo islamita palestiniano em 07 de outubro de 2023 enquanto participava no festival de música Nova, tornou-se na primeira refém libertada a falar no Conselho de Segurança da ONU, onde deu detalhes dos vários meses que passou em cativeiro, até ser resgatada em junho passado.
"Estar aqui hoje é um milagre. Mas estou aqui para dizer que não temos tempo. (...) O acordo [de cessar-fogo, que permitirá a libertação dos restantes reféns] deve prosseguir integral e completamente em todas as etapas. (...) Estamos a falar de pessoas inocentes que foram tiradas das suas camas, de uma festa de dança, da sua vida simples, para um inferno puro", disse.
Noa Argamani recordou que o seu namorado, Avinatan Or, e muitos outros reféns só deverão ser libertados na segunda etapa do acordo.
"Não podemos deixar ninguém lá. Eu sei qual é a sensação de ser deixado para trás. (...) Cada momento parece o último momento das nossas vidas. Cada segundo conta", relatou a jovem, que foi resgatada por Israel de uma casa palestiniana na Faixa de Gaza em 08 de junho de 2024.
Desde que foi libertada, a israelita tem defendido a libertação dos reféns que permanecem em Gaza, tendo comparecido no mês passado na tomada posse do Presidente norte-americano, Donald Trump, e reuniu-se com membros do Congresso, em Washington.
Na reunião de hoje do Conselho de Segurança discursou também Daniel Levy, presidente do US/Middle East Project (USMEP), um instituto de políticas sem fins lucrativos com foco no conflito israelita-palestiniano, que, num duro pronunciamento contra Telavive, pediu o reconhecimento da assimetria de poder entre "um Estado ocupante e colonizador e um povo colonizado", referindo-se a Israel e ao povo palestiniano, respetivamente.
"Quando o Hamas é culpado, ele é responsabilizado, severamente sancionado. Quando um embaixador de um Estado fica num pódio da ONU com uma pequena máquina de trituração e destrói a Carta da ONU, isso é um artifício", recordou Levy, mencionando o polémico episódio registado em maio passado, quando o ex-embaixador israelita Gilad Erdan triturou um exemplar do texto fundador das Nações Unidas perante a Assembleia-Geral.
"Quando um Estado, como Israel, se comporta de maneira que tira o sentido à Carta da ONU e que ataca as suas convenções, incluindo sobre genocídio, direitos, normas e leis que a ONU defende, então esse é um desafio que não pode ser deixado passar", defendeu Levy, frisando que esse "é o tipo de afronta que décadas atrás levou a África do Sul do 'apartheid' a ser suspensa da participação ativa na ONU".
O presidente do USMEP criticou ainda Israel por "reivindicar uma superioridade moral" ancorada em "acusações enganosas de antissemitismo", enquanto impede a entrega de assistência humanitária aos palestiniano e direciona ataques contra trabalhadores humanitários e funcionários da ONU.
As autoridades da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas desde 2007, estimam que cerca de 48.350 pessoas foram mortas pela ofensiva militar de Israel contra o enclave, em resposta aos ataques do movimento palestiniano.
O Hamas acusa Israel repetidamente de não cumprir parte dos compromissos em matéria humanitária no âmbito do acordo de cessar-fogo mediado pelo Qatar, Egito e Estados Unidos, em vigor desde 19 de janeiro, e tem apelado à comunidade internacional para pressionar o Governo israelita para que autorize a entrada de mais maquinaria pesada, habitações pré-fabricadas e ajuda humanitária em Gaza.
Apesar do cessar-fogo, o qual permitiu o aumento do fluxo de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, centenas de milhares de palestinianos continuam a viver em tendas nas vastas áreas destruídas por 15 meses de guerra.
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