Nesta geladaria, os sírios regressados a casa provam o sabor da liberdade

Ainda que tenha insistido que a receita do gelado não mudou desde que o seu bisavô a inventou, na década de 1890, até os clientes habituais asseguraram que havia algo de novo.

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© Reuters/Mahmoud Hasano

Notícias ao Minuto
12/12/2024 09:08 ‧ há 2 horas por Notícias ao Minuto

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Síria

Há 15 anos que Anas Idrees, de 42 anos, não saboreava o gelado árabe com infusão de mástique, na célebre geladaria Bakdash, no Mercado de Hamidiyya, em Damasco. Depois de ter deixado o Líbano para celebrar a queda do regime na Síria, e de ter preparado a vinda da sua família, o homem soube imediatamente o que estava a seguir na sua lista de prioridades.

 

“Juro por Deus, agora sabe diferente. Antes era bom, mas mudou porque estamos felizes por dentro”, disse, ao comer uma colherada, citado pela agência Reuters.

Há mais de 100 anos (com várias guerras pelo meio) que a geladaria serve esta iguaria, que é infundida com Sahlab, uma farinha feita a partir de raízes de orquídeas e batida à mão com martelos de um metro de comprimento, até adquirir uma textura macia e elástica. Uma dose generosa custa menos de um euro por taça e é servida com cobertura de pistácios.

A geladaria é muito apreciada em toda a Síria, mas muitos deixaram de poder visitá-la depois de, em 2011, o presidente Bashar al-Assad ter reprimido os protestos pró-democracia, dando início a uma guerra civil de 13 anos. Após a expulsão do chefe de Estado, dezenas de milhares de sírios convergiram para Damasco, muitos dos quais com a Bakdash em mente.

Ahmed Aslaan, um combatente de 22 anos que ainda envergava um uniforme verde, confessou que não via Damasco há mais de uma década e que saborear o gelado era uma vantagem da sua recém-descoberta liberdade.

“Graças a Deus, atingimos o nosso objetivo. Agora podemos dar a volta a toda a Síria no nosso próprio carro. Antes estávamos todos presos numa área minúscula, agora temos espaço”, disse.

De facto, o coproprietário do estabelecimento, Samir Bakdash, apontou que a reabertura no dia seguinte à queda de Assad foi uma forma de mostrar a sua alegria pelo fim de um governo que oprimiu os sírios durante décadas e o obrigou a pagar subornos só para manter as portas abertas.

Ainda que tenha insistido que a receita do gelado não mudou desde que o seu bisavô a inventou, na década de 1890, até os clientes habituais asseguraram que havia algo de novo.

“O sabor é diferente - é delicioso e ficou ainda melhor. Não é só o gelado, é a vida em geral. É como se as paredes estivessem a sorrir e o sol tivesse finalmente emergido”, disse Eman Ghazal, uma estudante de gestão na casa dos 20 anos que vem à Bakdash desde criança.

Recorde-se que o presidente da Síria, Bashar al-Assad, fugiu com a família no domingo e pediu asilo político na Rússia, depois de uma coligação de rebeldes ter conseguido tomar Damasco e anunciado o fim de cinco décadas de poder da família.

A coligação vitoriosa é liderada pela Organização Islâmica de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, ou HTS, em árabe) e inclui fações pró-turcas.

Os rebeldes lançaram uma ofensiva relâmpago em 27 de novembro a partir da cidade de Idlib, um bastião da oposição, e conseguiu expulsar em poucos dias o exército de Assad das capitais provinciais de Alepo, Hama e Homs, abrindo caminho para Damasco.

Os rebeldes islamitas que derrubaram o regime sírio nomearam Mohammad al-Bashir como novo primeiro-ministro responsável pela transição na Síria.

O partido Baath, no poder na Síria há mais de 50 anos, anunciou hoje a suspensão das suas atividades "até nova ordem".

Leia Também: Na fronteira da Síria com Líbano, uns juntam-se à libertação outros fogem

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