A socialista Ana Sofia Antunes, que é invisual, reagiu, esta sexta-feira, à polémica que estalou na Assembleia da República, quando a deputada Diva Ribeiro, do Chega, acusou a socialista de "só conseguir intervir em assuntos que envolvem, infelizmente, a deficiência".
As declarações, feitas numa altura em que eram debatidos projetos sobre inclusão no Ensino Superior, gerou indignação não só da parte do Partido Socialista, como por parte do Bloco de Esquerda e do Partido Social Democrata, que acusaram a bancada do Chega de continuar com este tipo de discurso com os microfones desligados.
Já hoje, na Assembleia da República e após uma intervenção sobre o assunto da líder parlamentar, Alexandra Leitão, Ana Sofia Antunes afirmou: "Estas declarações foram ainda agravadas pelo facto de após ter sido feita a respetiva defesa da honra da nossa bancada, foi alegado por outra deputada do partido Chega que é recorrente o Partido Socialista chamar a intervir apenas em debates temáticas as pessoas com deficiência sobre deficiências, as pessoas negras sobre racismo, os homossexuais sobre os debates no mesmo tema".
"Quanto à questão da competência para intervir - em que matérias for - não tenho muito a dizer. Tenho um currículo, esse currículo fala por mim. Trabalhei as mais diferentes áreas e também é certo que durante nove anos me dediquei à defesa dos direitos das pessoas com deficiência, integrando diferentes governos nessa aérea", referiu.
Sobre deficiência foi ontem a primeira vez que intervim
A parlamentar fez ainda 'as contas' e apontou: "Das cerca de 15 intervenções que consegui identificar de ontem até hoje feitas por mim em plenário desde que aqui estou como deputada, esta foi a primeira intervenção que fiz em matéria de deficiência. Intervenho frequentemente em assuntos como segurança, migrações, nacionalidade. Sou também coordenadora do PS nos Assuntos Europeus, por isso intervenho sobre assuntos europeus diversas vezes. Uma vez fiz uma intervenção sobre o tema dos direitos dos idosos. Sobre deficiência foi ontem a primeira vez que intervim".
Já hoje, a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, considerou que era necessário acabar com "o ambiente de intimidação que se vive na Assembleia da República". De acordo com Alexandra Leitão são muitos os relatos de "difamação de pessoas inocentes", de "bullying", "assédio e intimidação, dentro e fora do plenário, com insultos e afirmações trocistas, dirigidas a deputadas e em especial, a deputadas. Tudo isto tem acontecido no Parlamento português nos últimos anos, quase diariamente, diante dos olhos de todos nós".
Para lá da ofensa, a deputada considerou "mais grave" que, através das acusações que lhe foram feitas, terem sido no "plenário ofendidas todas as pessoas com deficiência, rotuladas como incapazes, inábeis ou incompetentes", o que disse ser inaceitável.
"Têm-se tornado frequentes comentários, apartes, afirmações humilhantes vexatórias em relação a diferentes pessoas com diferentes características, sejam elas mulheres, migrantes, com diferentes orientações sexuais, com diferentes características físicas", lamentou.
Segundo Ana Sofia Antunes, quando se pensa que "mais baixo não se pode descer", no parlamentou, o Chega aponta "o dedo às pessoas em razão da sua deficiência, sendo inclusive as mesmas caracterizadas num aparte como aberrações".
"Chegámos a um limiar em que alguma coisa tem que ser feita", enfatizou.
A deputada do PS defendeu que não se pode "permitir que este livre-trânsito continue a acontecer no parlamento, disfarçado de uma suposta liberdade de expressão".
[Notícia atualizada às 11h17]
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