Diz com orgulho que a sua mãe é turca, um argumento para recusar as acusações de que este partido de extrema-direita, em segundo lugar nas sondagens, é racista ou contra os imigrantes - a AfD defende o controverso conceito de "remigração" e o fecho das fronteiras.
"Nós não temos nada a ver com o Holocausto. A AfD é um partido político moderno, não está certo chamarem-nos fascistas", afirmou à Lusa, enquanto esperava que começasse um comício na pequena cidade de Euskirchen, oeste da Alemanha.
Questionado por que apoia a AFD, Ilyas fala de "insegurança" e de ataques realizados por requerentes de asilo. "É altura de mudar. Os tempos estão muito difíceis. Esta já não é a Alemanha em que eu cresci", lamenta o jovem, que aderiu às estruturas para a juventude da AfD.
O apoio dos jovens ao partido liderado por Alice Weidel, candidata a chanceler, e Tino Chrupalla disparou nas últimas eleições.
Nas regionais do final do ano passado, na Saxónia, Brandeburgo e Turíngia, a votação na AfD dos eleitores entre 18 e 24 anos superou a da restante população. Antes, nas europeias de junho, o partido triplicou a sua votação, para 16%, entre os jovens dos 16 aos 24 (nestas eleições, a Alemanha baixou a idade mínima legal para votar).
A organização juvenil, Junge Alternative (JA), foi considerada como "suspeita de extremismo" pelo Gabinete Federal para a Proteção da Constituição, e em janeiro o partido decidiu substituí-la por outra organização, mais vinculada ao partido.
Niels, 22 anos, foi ao comício de Euskirchen com mais dois amigos. "Precisamos de um partido verdadeiramente conservador na Alemanha. A CDU e outros partidos conservadores só falam da boca para fora", criticou.
A AfD, considera, tem "posições normais", mas "é chamado de extrema-direita", lamenta.
Apesar de apoiar este partido, nomeadamente na sua posição "contra a imigração ilegal", Niels não subscreve as propostas da AfD para a economia: "Prefiro a CDU ou FDP [liberais], não tão à direita".
A política externa é outro argumento para este jovem: "É importante termos uma relação com os Estados Unidos e eles não querem trabalhar com outros partidos, só com a AfD".
"A AfD é o melhor partido para trazer a Alemanha de volta e ser um país melhor", garante Sven, 23 anos, fazendo lembrar o slogan MAGA ('Make America Great Again') do Presidente norte-americano, Donald Trump.
Sven, que é militante da AfD, afirma que a migração é "um tema importante" para o partido, mas apresenta outro: "Não queremos carros elétricos".
Especialistas apontam a forte presença da AfD nas redes sociais, principalmente o TikTok, como uma das causas para o sucesso entre os jovens. A conta do partido foi banida desta rede em maio de 2022, mas a plataforma é inundada por páginas de personalidades da AfD, mas também influenciadores digitais que transmitem a mensagem do partido.
Um estudo sobre os eleitores de primeira viagem nas eleições federais alemãs do próximo domingo, conduzido pelo Instituto de Pesquisa Geracional de Augsburg, mostra que a AfD é o partido que mais alcança os eleitores jovens através das redes sociais, segundo 55% dos 4.000 jovens e eleitores qualificados envolvidos.
"Portanto, a AfD é a melhor em lidar com os medos e preocupações desta geração, enquanto outros partidos até agora ignoraram demasiadamente essas questões", concluem os autores do estudo.
A Alemanha realiza no domingo eleições legislativas antecipadas - estavam previstas para 28 de setembro -, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta pelo SPD (social-democrata), pelos liberais do FDP e pelos Verdes.
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